Cássio x Cícero: quem pode vetar quem?
A imprensa da Paraíba está dando certo destaque a declarações do ex-governador Cássio Cunha Lima , no início da semana, segundo as quais não teria veto ao prefeito Cícero Lucena e não descarta reaproximação política com ele, sublinhando ainda não haver nada de pessoal e que o problema entre ambos teria sido apenas um desalinhamento político.
No contexto das articulações preliminares para as eleições de 2026, trata-se de uma declaração visando estimular um possível racha na aliança liderada pelo governador João Azevedo, já que Cícero Lucena se anuncia pré-candidato a governador e existem outros postulantes ao posto no mesmo grupo político. A oposição tem apostado muito nesse possível racha. Cícero entrou no radar. Nada de outra esfera. Faz parte do jogo político.
Destaque-se, nas notícias, uma frase aspeada. De Cássio:
“Não tenho veto a ninguém. Essa é uma discussão coletiva, não individual. Depende de Cícero, Pedro, Ruy, Veneziano, Efraim, de todo o grupo”.
Pelos desdobramentos, haveria até boa vontade de boa parte desse grupão à ideia da atração de Cícero.
O problema é que talvez o próprio prefeito Cicero Lucena, ao contrário, cultive sentimentos diferentes em relação ao ex-governador Cássio Cunha e a outros integrantes do grupo político ao qual se alinha, especialmente, o deputado Ruy Carneiro.
O possível veto a uma aproximação política com o deputado Ruy Carneiro nem precisa de explicação. Ruy disputou duas eleições com Cícero em João Pessoa fazendo duras críticas ao opositor. Na última, agora em 2024, sustentou a denúncia que a família de Cicero teria ligações com o crime organizado. Só por este fato parece praticamente impossível imaginar Cícero num mesmo palanque com Ruy.
Em relação a Cássio, em que pese a longa aliança por mais 20 anos e o fato de Cícero ter entrado na política como vice-governador de Ronaldo Cunha Lima, será preciso resgatar o motivo do tal do desalinhamento político aludido pelo ex-governador. Diz respeito às eleições de 2010. Cícero, histórico aliado da família Cunha Lima, estava no meio de seu mandato de senador e almejava ser candidato a governador, mas Cássio, logo após a cassação de seu mandato, buscou aliança com o então prefeito Ricardo Coutinho, tido por Cícero, como responsável pela sua prisão em 2005.
Na época, Cícero ainda sustentou que votaria em Cássio para o Senado, mas não se envolveu na campanha, e, daí pra cá, os dois nunca mais se alinharam na política. Em 2014, Cássio foi candidato a governador contra Ricardo, Cícero poderia ser candidato à reeleição para o Senado, mas, isolado, anunciou afastamento da política.
Podem haver razões de foro interno e desconhecidas do público que conspirem para realinhamento, mas, pelo fatos notórios, a impressão é que se trata de processo tendente a não se configurar e que, se alguém tiver veto a apresentar, será de Cícero a Cássio.
Não significa, contudo, que não possa haver de jeito nenhum a reaproximação entre Cunha Lima e Lucena. Na politica sempre há possibilidades. Basta lembrar que a a Paraíba ja assistiu, depois da virulenta campanha da viola contra a pistola em 1990 (Ronaldo x Wilson Braga),
A celebração de aliança entre Braga e Cássio em 2002, e viu o ex-governador Tarcisio Burity perdoar o ex-governador Ronaldo Cunha Lima pelo episódio da tentativa de morte, no Gulliver. Então…
